segunda-feira, 10 de junho de 2013

Lençóis Listrados

As grades dos portões enferrujados dão o primeiro olhar sobre a fechadura da porta, as nuvens que surraram os telhados em sua noite de angústia ainda não foram embora, as gotas batem e rebatem por todos os lados, as poças começam a encobrir as barras das calças que caminham por entre as sarjetas. Pássaros anseiam por migalhas em rostos lisos e cabelos frescos, a janela do prédio vermelho esquerdo, com manchas de esgoto escorrendo até a sacada, parece enfeitar aquela rua cinza, sem vida. Os becos gelados e úmidos tornam-se portas de fuga, corações roxos flutuam para dentro das latas de lixo verdes e brancas que nem os ratos conseguiam entrar. Sacos de latas segurado por mãos frias e machucadas arrastam a música entre as calçadas da feira da noite passada, animais caminham com seus carrinhos de metais banhados, com placas numerosas, com espelhos unilaterais encobrindo o reflexo da luz. Emoções evaporam pelos rejuntes dos pisos sujos do saguão do prédio vermelho, as portas rodeiam os braços acorrentados pelos quartos com telefones e banheiras, os elevadores sem graxa esgoelam por dentro das paredes trazendo casacos, brincos, dores e um copo de suco. As prostitutas dançam com seus espartilhos laranja, suas coxas parecem caminhos direto para casa, a geração que pode voar com demônios em seus fones ambulantes, promovem gritos de prazer com seus amores que lhe esperam em caixas de bailarina.Senhoras e senhores se levantam rumo ao inferno das garrafas com cadeiras voadoras e embriagadas. George senta-se em uma cadeira bem no fundo do prédio, perto da jukebox que tocava Cash a pleno pulmões, a fumaça encobria cada ser que espreitava por entre aquele imenso salão, com algumas velas em cima de uma estante velha e que quase desmoronou quando foi analisada por uma moscar que lá pousou, as paredes eram descascadas, mas dava para perceber que a muito tempo tinha um tom rosado por baixo, George observava a lua que vinha surgindo pelas nuvens negras, que ali ficaram o dia todo.A hora passa e o café de George não sai da xícara, os bêbados dançam e falam suas poesias para as garçonetes que trafegam com suas bandejas metálicas, suas saias se levantam a cada passo rumo a cozinha suja. O casaco de George esta ao lado de sua cadeira, suas mãos acordam e pegam o casaco preto e desbotado que a dias precisava de um banho, as botas de George atravessam o imenso salão provocando um barulho como se fosse uma marcha de cavalos alados, George abre a porta olha para esquerda , pega um cigarro, caminha por entre os mesmos becos dos ratos molhados, os portões enferrujados tremem com as cartas que chegaram na guerra passada, a luzes amarelas começam a iluminar as pegadas da bota de George, a trilha se forma por todo quarteirão, George sobe as escadas do pequeno jardim de sua casa amarela, recolhe seus jornais e começa onde você termina.Em um quarto com sua cama enfeitada por lençóis cheio de listras.
Alan R Vianni

terça-feira, 28 de maio de 2013

Calçadas Derretidas

O gato preto observava pela janela os passos delicados daquela linda mulher, ela não caminhava como as outras, parecia que o tempo parava, que as luzes ganhavam mais intensidade a cada passo. Seus lábios carnudos, um nariz fino e pequeno e com sardas charmosas que enfeitavam seu pescoço descoberto. Seu batom vermelho transborda luxúria por todo seu pequeno corpo arrepiado, por entre suas coxas rosadas que sonham todas as noites em ser tocadas por mãos fortes e quentes. As calçadas derretem a sola daquele sapato verde e frágil, fazendo seus pés formigar, ela se senta embaixo das nuvens que começam a dançar com as gotas de chuva, o primeiros pingos caem direto em seus cabelos finos e brilhosos, parecem fios de ouro colocados em uma boneca. A lua começa a dar lugar as nuvens com tom de cinza escuro, o insetos começam a voar desesperadamente com o cheiro de terra molhada que começa a perturbar os “feromônios animais”. Mica entra em um restaurante que tem seus letreiros queimados e teias de aranhas por entre as fendas das telhas. Mica se senta, fechada por quatro cadeiras, ao som dos talheres que acabam de cair na cozinha daquela espelunca. Mica pede um suco de graviola e uma torrada bem passada, ao olhar para rua Mica vê cachorros e ratos dentro de latas enferrujadas afugentando os vermes que imploram por migalhas estragadas. As gotas de chuva limpam as valas imundas que escorriam galhos mortos e folhas secas. Mica chama o garçom que era alto, barbudo e tinha um grande volume em suas calças, Mica vendo aquilo, começa a passar os dedos em suas coxas rosa, que agora anseiam aquele lindo garçom de mãos fortes de ombros largos e robustos. Mica escreve em um papel e o entrega ao garçom, Mica se levanta e vai ao banheiro e fica se olhando no espelho, de repente o garçom entra , levanta seu vestido azul, tira sua calcinha com os dentes, Mica diz que aquilo é o que faz ela se sentir viva, ela geme como lobas no cio. Vinte e cinco minutos depois, Mica sai arrumando seu cabelo fino e brilhante joga dez moedas e paga seu suco e sua torrada que mais se parecia há um carvão. Mica segue as ruas acidentadas que costuram as masmorras modernistas, como se fossem entretenimento manipulado, sem variações, apenas seguindo direções questionáveis e sem volta.Mica toma um banho quente deita em sua cama e ainda sente os dentes daquele garçom tirando sua calcinha. Alan R. Vianni

Língua de Café da Manhã

As ruas do Oeste parecem ser tão longe, os carros passam todos dias cuspindo fumaça em estrelas escuras que se escondem em flores no deserto. Cabeças se enrolam em furacões matinais, mas Benjamim segue com seus sapatos marrons, que já muito sofreu com os passos de seus calcanhares. A esquina esfarelada de concreto indica caminhos feitos por formigas viajantes com seus blazers importados e cheirosos, quinze passos mais a frente dedos começam a sentir o cheiro de fumaça vendida em bares de café com leite. Benjamim entra na esquina da avenida central, sobe degraus de praças com estátuas de anjos que a muito foram pichados pelo coma da “religação”, fontes incompreendidas cheias de lágrimas ancestrais escorrem por entres seus pisos internos, Benjamim joga sua moeda de cinco centavos, que em uma noite achou jogada em gaveta de cuecas sujas. Benjamim observa a neblina subir nas encostas dos brejos que habitam sapos e seus seres gelados, as mãos seguram-se dentro dos bolsos que anseiam a lareira nua que atravessa o vidro do restaurante solitário e abandonado do outro lado rua. A porta se abre com a necessidade das engrenagens funcionarem por mais uma vez em décadas, ao sentar em uma das muitas cadeiras empoeiradas, senti os cupins vibrarem como toda a cadeira, a garçonete trouxe um café como de praxe, moscas rodearam com o zunir de abelhas enfurecidas, o gole quase queimou a garganta gelada e escura. Alan Vianni

domingo, 31 de julho de 2011

Cérebro de James


Senhor James acordou em uma manhã cinzenta,abriu sua janela e viu os primeiros pingos caindo sobre as latas de lixo que esfumaçavam dias de calor presos em alumínio.A neblina começava a pairar sobre os becos semi iluminados.Um toque como sempre em seu vinil preto e saboroso começa a se encostar com a agulha da vitrola trazendo os brilhos de uma manhã gloriosa.

James pega seus cigarros amassados no bolso da calça e se senta em frente a janela, sua atenção se volta para o sax que entoa das caixas de áudio.A música corre por seus músculos sentindo a loucura que beira a sua janela secreta.
James era pintor em uma galeria pequena da cidade,pintava coisas como sonhos, natureza selvagem e até mesmo o caminhar de uma joaninha,ele gostava de sentar em cima dos prédios e sentir a brisa que só vinha do alto daquele inferno urbano,gostava de flores pois no momento elas causavam menos dor, do que um par de pernas torneadas exalando feromônios angelicais por de baixo do vestido.

A garrafa de uísque parece convidá-lo para um beijo estranho,com prazer em seus olhos de creme marrom, que predominam a mesa desarrumada por papéis de poesias passadas.Os militares passam pela rua estranha com seus uniformes ridículos e perdidos na hora do rush.
o vidro do quarto toma seu banho de chuva que veio junto com o vento do lado sul do parque central.Os minutos passam e James acende seu primeiro cigarro com a companhia do uísque que conseguiu encantá-lo na manhã cinzenta.A chuva começa a ter um tom mais grave como de Blues.

James colocou seu casaco de couro e suas botas antiquadas,e rumou as escadas.James passou por uma jovem que estava na porta do hotel toda molhada e com um cigarro em seus dedos.Ele atravessou a rua fugindo da chuva que já castigava a todos com sua força.Ao abrir a porta do bar todo molhado, pendurou seu casaco na cadeira,chamou a garçonete e pediu um café e uma vodka.

A garçonete era uma mulher de vinte e seis anos , mal humorada que logo veio e jogou o café e a vodca em cima da mesa ,quase virando tudo em cima de suas calças.James terminou seu "café da manhã" ,deixou o dinheiro amassado dentro do copo de vodka vestiu o casaco acendeu o cigarro e mostrou o dedo para a garçonete e saiu sorrindo soltando fumaça pelo canto da boca.

Ao voltar para seu apartamento James se pôs a deitar em seu sofá preto e rasgado olhando 
para o teto que tinha uma rachadura e que pingava lentamente.James se dirigiu a janela com o copo em suas mãos ,brincando de girar o gelo com a ponta dos dedos pensando em algo perturbador, sentou-se e escreveu seu fim.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Peixes Navegantes




Pequenas gotas caem adormecidas na manhã cinzenta do lado sul,rosas presas em arames fechando a sorte e a luxuria,anjos com seus olhos de sementes esverdeadas dançam em uma roda de sonhos.Uma bala atinge a conferencia novamente no horário nobre,mais uma execução em doces lares.

As ruas geladas esfumaceiam vapores lançados pelos bueiros livres de cores,as luzes amareladas enfeitam os pássaros noturnos e sombrios.Em seu lado obscuro uma melodia do fim dos quarteirões em seu vulcão de erupções.

As árvores parecem necessitar dos ares celestiais e nuvens carregadas de flores,por milhas e milhas procurando a pétala da meia noite.A meia luz de um antigo bar,guitarras pedem a atenção do barman para um gole que a anos estava prezo dentro daquela garrafa de Uísque doze anos.

Na sacada rústica do bar “milenar” acendo um filtro de prazer e carbono para fugir a mente ao outro lado da noite.Cabelos estranhos parados em portas de carros,esperando novamente as lagrimas de uma noite fechada com traços de uma vela na escuridão.

Peixes estranhos navegam por calçadas imaginarias falando sobre fantasias encurraladas em garrafas voadoras.Profetas com copos escravos em seus punhos,elevando as estrelas seus pecados minuciosos dentro de uma bola de sorvete.Quebra-cabeças se encaixam em esquinas, com toques de piano e apenas o vento como uma drástica companhia,você é tudo que necessito em quadrinhos mentirosos,seus olhos sexy voaram direto para o “Inferno de Dante” .

O bar parece ter sumido daquela esquininha da rua 8,o copo de vidro foi deixado por descuido em minhas mãos,então sai caminhando rumo a porta que tinha sinais de uma luta da noite passada.Os passos batem no chão com um ritmo de Tango,calmo,mas com intensidade.

Câmeras de segurança filmam a privacidade contemplada pelo céu negro e fechado,os muros parecem de colocar em um corredor da morte programado por ruas pintadas e pontos de ônibus,as flores ficam aprisionadas dentro de quintais montados com pisos e azulejos.

Andando em um “labirinto” de pecados, as harpas entoam os toques do fim dos tempos,os anjos se sentam em cima dos postes do “Coliseu de fantoches” cantando o som dos pássaros mortos pela pólvora da insanidade.


domingo, 17 de janeiro de 2010

Céu de Baunilha

Aquelas escadas geladas e esverdeadas, nunca mais sentirão nossos pés, depois de ter você, porque querer saber se irei ou não.

Por que ela não gosta dos dias nublados, é tão charmoso quando olhado com paixão. E por que as estrelas esta noite não saíram para o seu imenso quintal negro e infinito.



Aquele amor de baú flagelado foi embora naquele domingo qualquer, em que tudo que podia se imaginar eram aqueles pássaros flutuando rumo ao entardecer quase perfeito.

Aquelas cores não iluminam aquela rua escura, em que as crianças buscam fantasias de chocolate e alegrias de plástico.

Vejo-a pela janela do carro como em um filme de romance com hora marcada e fim planejado, vamos sair desta cidade para termos nosso amor. Seus pais disseram não,mas você nem se importou você me amava.Vamos embora...

Vamos embora para o vulcão de essência de flores. Vamos para o céu de baunilha.


Alan Vianni